Especialistas reforçam recomendação: vacinados também usam máscara

Foto de Jonathan Lins Agência Alagoas

Publicado em 26/01/2021 – 06:00 Por Marcelo Brandão – Repórter da
Agência Brasil – Brasília

Fonte Agência Brasil

O início da vacinação no Brasil e em outros países não significa que
as pessoas devem retomar uma rotina semelhante à de antes da pandemia.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já indicou que a
imunização de rebanho pela vacinação não deverá ser atingida em 2021.
A declaração foi feita este mês pela dra. Soumya Swaminathan, da OMS.

“Mesmo que as vacinas comecem a proteger os mais vulneráveis, não
atingiremos nenhum nível de imunidade na população ou imunidade de
rebanho em 2021. Mesmo que aconteça em alguns países, não vai proteger
as pessoas ao redor do mundo”, disse ela, em entrevista coletiva, no
dia 11 de janeiro.

Soumya elogiou o esforço dos cientistas na produção de não apenas uma,
mas várias vacinas contra a covid-19, algo que, na sua opinião, era
impensado há um ano. Ela acrescentou que as medidas de contenção da
pandemia devem continuar sendo praticadas até o fim deste ano, “pelo
menos”.

Esse raciocínio é acompanhado por especialistas aqui no Brasil.
Segundo eles, a população não pode relaxar porque a vacinação começou.
“Quando observamos nossa realidade no Brasil e as dificuldades que
estamos tendo, a gente realmente passa a pensar que isso [o fim da
pandemia] vai ser talvez em 2022 e olhe lá”, disse a médica
infectologista e professora de medicina Joana D’arc Gonçalves. “A
gente está vendo a guerra que é com essas poucas doses disponíveis no
Brasil e nem temos a perspectiva de ter mais doses, por causa de todos
esses conflitos, as dificuldades internacionais”, acrescentou.

Ela lembra que as vacinas apresentam particularidades que, de uma
forma ou de outra, são entraves para sua distribuição. Seja uma
necessidade de armazenamento em temperaturas muito baixas, seja a
dificuldade de produção de insumos aqui no país. A médica recomenda
que a população não veja a chegada da vacina como algo muito próximo e
mantenha os cuidados tomados em 2020.

“A gente teve uma gota de esperança neste oceano de problemas. Temos
que segurar a nossa onda, saber que o insumo existe, mas que
precisaremos de um pouco mais de paciência. Não é tão fácil produzir
rapidamente [uma vacina]”.

Vacinados e com máscara

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações
(SBIm), Juarez Cunha, a imunização de rebanho só deverá ser alcançada
se o mínimo de 60% da população estiver vacinada. Mas ele destaca que,
mesmo que o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Sistema Único de
Saúde (SUS) seja sólido e consigamos vacinar parte da população
brasileira até o fim do ano, o vírus ainda estará em circulação. E faz
um alerta: mesmo os vacinados devem continuar adotando isolamento
social, álcool em gel e máscara.

“Nenhuma vacina é 100% eficaz. Com a vacina, a pessoa tem uma chance
muito grande de se proteger das formas moderadas e graves, mas não
elimina a possibilidade de contrair a doença. Estando com a doença,
ela vai transmitir para outros. Não dá para correr esse risco”.

Existe ainda o componente social dessa medida. Se todas as pessoas
vacinadas pararem de usar máscara, isso pode, na visão de Cunha,
desmobilizar a população como um todo para o uso dessa barreira contra
a covid-19. Veremos mais pessoas sem máscara, estimuladas pelos
vacinados. “E como as pessoas vão saber se aquela pessoa já foi
vacinada?”, questiona.

Além disso, mesmo que parte da população do país se vacine ainda este
ano, existirão “bolsões de vulneráveis”. São comunidades, bairros ou
grupos de pessoas com poucos ou nenhum vacinado, onde haverá
circulação do vírus. Esse conceito pode ser reproduzido em escala
mundial. Afinal, em um cenário onde ainda há pouca vacina disponível,
os países que saem na frente são os que têm mais dinheiro para
comprá-las mas, em algum momento, os demais entrarão na partilha.

“Para termos uma proteção coletiva, precisamos ter ótimas coberturas
vacinais em todos os países. Isso vai levar um tempo porque os países
mais pobres terão que receber muitas vacinas no momento em que elas
começarem a ser distribuídas para eles. Essas vacinas vão demorar
ainda mais, provavelmente começam a ser distribuídas no segundo
semestre”, analisou o presidente da SBIm.

Cunha reiterou a importância dessas medidas “não farmacológicas”, como
uso de máscara, distanciamento social e higienização constante das
mãos. Medidas simples, mas eficientes, no combate ao novo coronavírus.
“São as únicas medidas que temos até agora que demonstram que diminuem
a doença, a hospitalização e a morte. Independentemente de começarmos
a vacinar, de vacinar um percentual grande da população, vamos ter que
continuar com essas medidas por muito tempo”.

Imunização de Rebanho

Especialistas estimam que para tirar um vírus de circulação, é
necessário ter em torno de 60% a 70% de pessoas vacinadas. “Depende da
eficácia da vacina”, diz Joana D’arc. “Quanto maior a eficácia,
pode-se até ter um número de imunizados menor que 70%”. Por meio da
vacinação em massa, o Brasil já conseguiu imunizar sua população
contra uma série de doenças perigosas.

Varíola, sarampo, rubéola, caxumba e meningite são alguns dos casos. A
poliomielite, que ainda tem surtos em vários países, foi controlada no
Brasil. No passado, inúmeras crianças morreram de catapora, hoje
controlada. “Teve país que erradicou o câncer de colo de útero só por
meio da vacina contra o HPV”, destacou a infectologista.

Edição: Graça Adjuto

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